Um medicamento que desacelera a progressão do Alzheimer foi considerado eficaz por um painel da FDA, a agência federal de saúde dos Estados Unidos.
O Donanemab recebeu aprovação nas fases iniciais nos EUA e traz notícias animadoras. No entanto, Orestes Forlenza ressalta que, apesar de ser promissor, seu uso é recomendado apenas para casos específicos.
Os especialistas da agência votaram por unanimidade a favor da eficácia do Donanemab, que reduz a progressão da doença em 60% nos estágios iniciais. O comitê avaliou que os benefícios superam os riscos, pavimentando o caminho para a decisão final da agência norte-americana. O professor Orestes Forlenza, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, descreve o medicamento como uma “luz no fim do túnel” para o tratamento do Alzheimer, uma doença que continua sendo um grande desafio para os cientistas e ainda não tem cura. No entanto, Forlenza faz várias ressalvas em relação ao medicamento, incluindo o custo, os efeitos colaterais e os benefícios limitados.
O Donanemab faz parte de uma nova categoria de medicamentos que buscam retardar ou até mesmo impedir a progressão da doença de Alzheimer. Esse fármaco vem sendo investigado há alguns anos, com resultados recentemente divulgados. De acordo com um médico da USP, a proposta dessa nova classe envolve “a formulação de anticorpos monoclonais, que são anticorpos preparados para eliminar o beta-amiloide, um peptídeo associado ao desenvolvimento do Alzheimer”. Ele acrescenta: “É evidente que a administração desses anticorpos é complexa. Deve ser feita por infusão intravenosa, e os estudos são bastante sofisticados”. Vale destacar que as primeiras drogas testadas dessa classe não tiveram sucesso; várias delas, com propostas semelhantes, foram interrompidas.
O Donanemab torna-se, assim, o medicamento mais recente e, no momento, o mais promissor. Conforme mencionado pelo professor, o objetivo desse fármaco é remover o peptídeo amiloide, que “resulta de uma clivagem anormal de uma proteína neuronal, causando um efeito tóxico e desencadeando uma série de eventos que levam à neurodegeneração”, explica ele. Ao remover o amiloide do cérebro, a consequência esperada seria a redução dos sintomas da doença.
Contrapontos
Embora os resultados da pesquisa sejam os mais promissores atualmente, “eles não foram tão satisfatórios quanto se esperava. O benefício clínico é limitado, apesar da remoção do amiloide”, afirma Forlenza. Ele destaca que há quase um consenso na comunidade científica de que o peptídeo é a causa do Alzheimer, por isso, havia uma expectativa de que os efeitos do medicamento fossem mais significativos.
Forlenza também enfatiza que o Donanemab é indicado apenas para casos muito iniciais da doença. “Este medicamento não será eficaz para todos os pacientes, pois o benefício clínico está relacionado a um momento muito específico da progressão da doença, e é praticamente certo que não haverá benefício se o quadro já estiver avançado; será tarde demais”, afirma Forlenza. Os benefícios estariam limitados apenas a um estágio específico da doença.
Por essa razão, ele afirma que é crucial que o medicamento seja prescrito sob critérios rigorosos, pois, se utilizado fora desses parâmetros, o efeito positivo não ocorrerá, e há ainda o risco de efeitos colaterais adversos. Além disso, o custo do medicamento é elevado: aproximadamente US$ 60 mil por ano, cerca de R$ 320 mil. Considerando isso, ele comenta que o Donanemab, se aprovado, será destinado a um grupo pequeno de pessoas.